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Empresas e Projetos AEP

A Importância da Formação Profissional na Rentabilidade das Empresas

A elevada velocidade que se tem assistido ao nível da transformação tecnológica, da globalização da informação e da transição energética, tem feito com que a Formação Profissional assuma um papel crucial no fortalecimento da economia portuguesa, nomeadamente para a capacitação e qualificação dos seus ativos empregados. Segundo o estimado pelo Fórum Económico Mundial, mais de 70% dos trabalhadores portugueses terão necessariamente de adquirir novas competências até 2030 para conseguirem acompanhar as exigências do mercado de trabalho e os novos desafios com que as empresas se irão deparar nestes próximos anos.

E é neste domínio que a Formação Profissional se reveste de uma importância insofismável para a produtividade da economia, porque permite não só a atualização e reconversão de competências, como também a valorização do capital humano, aumentando a produtividade, a empregabilidade e a competitividade das empresas.

Em Portugal, no que diz respeito à Formação Profissional, são muitos os desafios e as oportunidades com que os vários agentes se deparam. Desafios esses que, devido ao atraso estrutural ao nível das qualificações de adultos, ainda se revestem de maior envergadura do que na maioria dos países europeus.

Em termos de diagnóstico, Portugal apresenta um significativo défice estrutural em qualificações, pese embora todo os resultados já alcançados nas últimas décadas. Dados do Eurostat revelam que cerca de 35% da população ativa possui apenas o ensino secundário ou inferior, o que se traduz numa taxa superior à média europeia, realidade que tem forte impacto direto na produtividade do país, que permanece cerca de 30% abaixo da média da União Europeia.

Para combater a diminuição desta assimetria, a aposta na Formação Profissional surge como uma das estratégias mais eficazes, uma vez que é tendente a inverter esta realidade e a impulsionar o crescimento económico sustentável, assente em ganhos de escala, de eficácia e de eficiência, por força da rentabilização e aplicação de conhecimentos adquiridos decorrentes da assimilação de formação profissional, seja na componente sociocultural, científica, tecnológica ou prática em contexto de trabalho.

Um estudo recente da Fundação José Neves divulgou que empresas que investem em formação profissional, nomeadamente a formação financiada por apoios do Fundo Social Europeu, registam aumentos médios de 5% na produtividade, 15% nas exportações e 10% no volume de negócios.

A Formação Profissional é, assim, uma ferramenta poderosa para a transformação organizacional, para a adaptação às novas tecnologias e para a criação de valor em setores estratégicos como a indústria, a tecnologia, o turismo e a energia.

Consideremos um cenário hipotético, mas de carácter prático e ilustrativo, sobre a importância da Formação Profissional para o aumento dos vários indicadores de rentabilidade de uma empresa:

A XPTO, empresa fictícia do ramo industrial, implementou um plano de formação contínua em áreas operacionais ao nível do CNC, desenho técnico e lean manufacturing. Para o efeito, investiu 8.000,00 euros para a qualificação dos seus trabalhadores, ministrando-lhes 200 horas de formação.

Passados 18 meses depois de terminada a formação, foi efetuada uma análise do impacto da mesma nos resultados e indicadores operacionais da empresa, e chegou-se às seguintes conclusões:

1. A produtividade média aumentou 12%;
2. O tempo de setup das máquinas (tempo necessário para preparar a máquina antes de iniciar uma nova produção) reduziu-se em 25%;
3. Os erros de produção caíram 30%;
4. A rotatividade de pessoal desceu de 18% para 9%.

Este caso demonstra como a aposta na qualificação dos trabalhadores resulta em ganhos operacionais concretos e mensuráveis, melhoria da qualidade e maior estabilidade da força de trabalho.

Se considerarmos, em termos médios, um resultado operacional de 50.000,00 euros ao ano, o aumento da produtividade média de 12% correspondia a um aumento do resultado operacional anual de 6.000,00 euros.

Significa isto que o período de recuperação do investimento de 8.000,00 euros se fixava em 16 meses e que, daí em diante, o efeito do investimento realizado em formação profissional, não considerando outros efeitos e variáveis marginais, se traduzia num ganho direto da empresa. Acresce que, além dos ganhos diretos ao nível da produtividade e resultado operacional, a empresa melhorou a sua performance ao nível da poupança energética (o tempo de setup das máquinas reduziu-se em 25%), da diminuição da produção de produtos defeituosos (os erros de produção caíram 30%) e do aumento da satisfação dos seus trabalhadores (a rotatividade de pessoal desceu de 18% para 9%).

Ou seja, a aposta na Formação Profissional gerou evidentes ganhos ao nível da produtividade, da eficiência operacional, da qualidade dos produtos, do clima organizacional, da rentabilidade, da poupança energética e, portanto, ao nível da organização como um todo.

Em termos de análise e impacto regionais na NUTs III do Tâmega e Sousa, as carências ao nível da qualificação dos seus recursos humanos e da profissionalização da gestão, com especial enfoque em setores produtivos e transformador como o têxtil, calçado e mobiliário, são ainda mais vincadas. O papel das entidades formadoras, sejam de carácter setorial ou não, assume uma importância fundamental na qualificação dos ativos e quadros superiores das empresas. Neste domínio, as Associações Empresariais podem, e devem (!), pelo seu conhecimento das necessidades (formativas) das empresas, ter um papel interventivo no planeamento e execução de programas formativos.

Os projetos de formação em rede, com partilha de recursos entre Associações e Escolas Profissionais, têm mostrado bons resultados em concelhos da nossa região, onde se observaram melhorias nos indicadores de produtividade e empregabilidade, pelo que o potencial transformador da Formação Profissional nesta região é ainda muito elevado.

Ainda assim, o recente caminho feito até aqui no que respeita à formação profissional tem produzido excelentes resultados, quer ao nível da redução do desemprego jovem (15-24 anos), quer ao nível da comparação entre empresas com e sem formação profissional contínua em termos de crescimento médio anual de produtividade.

A redução significativa da taxa de desemprego jovem está fortemente associada a políticas de formação profissional e inserção no mercado de trabalho, das quais se destacam os estágios profissionais e contratos de inserção laboral, os cursos técnicos e formação contínua adaptados às necessidades do mercado e o apoio a jovens desempregados para aquisição de competências técnicas.

Analisando esta tendência, segundo os dados oficiais, a taxa de desemprego jovem desceu de 32% em 2015 para cerca de 21% em 2024. O aperfeiçoamento da formação profissional através do IEFP e outros programas ativos foi um fator-chave nesta melhoria.

No entanto, apesar do progresso, ainda falta reduzir a taxa para valores mais próximos da média da UE (cerca de 15%). Para tal, continuar a fortalecer e inovar a orientação estratégica e decisões políticas para programas de formação será essencial.

Segundo dados da Fundação José Neves, as empresas que apostam na formação dos seus colaboradores registam, em média, um aumento mínimo de 5% na produtividade.

Acresce que as empresas com maior grau de digitalização alcançam superiores a 20% de produtividade, refletindo que competência técnica, via formação e digitalização, impulsiona o desempenho global da empresa a nível da rentabilidade.

No entanto, ainda segundo a Fundação José Neves, apenas menos de 20% das empresas promovia formação contínua, pelo que ainda há muito a fazer para consciencializar as empresas que a formação profissional contínua é um fator indutor de aumento da produtividade, por um lado, e uma variável positivamente fortalecedora ao nível da retenção e satisfação dos colaboradores e uma vantagem estratégica e económica.

Parece-nos, sem reservas, que no País, e em especial da região do Tâmega e Sousa, se deveriam implementar e/ou fortalecer algumas orientações estratégicas, para solidificar e robustecer o papel da Formação Profissional, nomeadamente:

1. Reforço dos incentivos financeiros destinados à Formação Profissional nas empresas;
2. Formação Profissional contínua obrigatória adaptada ao setor de atividade e ao perfil etário dos trabalhadores;
3. Valorização da Formação Profissional dual e dos estágios em contexto prático e real de trabalho;
4. Maior integração entre Estado, Associações Empresariais locais e Escolas Profissionais.

Concluindo, a Formação Profissional não é apenas um instrumento de qualificação individual, mas um fator qualificante global, assumindo-se como um verdadeiro motor de desenvolvimento económico.

Empresas mais capacitadas, com trabalhadores e dirigentes mais qualificados estão melhor preparadas para responder aos desafios que o mercado impõe e, por isso, sobretudo por isso, estão mais próximas de aumentar a sua rentabilidade e, em última instância, aumentar o Lucro da empresa – que é o objetivo primeiro de qualquer empresário.

O País e a região do Tâmega e Sousa têm vindo a reconhecer esta importância, mas persistem desafios na implementação e generalização da efetivação da ministração da Formação Profissional, mas não pode haver dúvidas na sociedade (e em qualquer dos seus agentes) que apostar na Formação Profissional é investir na produtividade, na inovação, na coesão territorial e na construção de uma economia mais resiliente, inclusiva e competitiva.