Input Económico

Empresas e Projetos AEP

Ir para Fora, a Partir de Cá de Dentro …

Na história do pensamento económico assumiram relevância várias correntes relativas à forma de relacionamento económico com o exterior. Desde o protecionismo, o laissez faire, laissez passer, a política do “orgulhosamente sós”, as uniões económicas e aduaneiras, as zonas de comércio livre, entre outras.

Com o processo de globalização instaurado desde o início da década de 90 do século passado, foi crescendo de forma paulatina e muitas vezes galopante, o volume de comércio internacional entre os países, dos mais variantes quadrantes geográficos e coordenadas mundiais.

Ao nível das políticas governamentais, passou a ser uma prioridade a promoção da competitividade das empresas por via da internacionalização e, no caso concreto de Portugal, decorrendo da Resolução do Conselho de Ministros n.º 189/2017, de 6 de dezembro, foi estabelecido como objetivo geral aumentar as exportações de bens e serviços, ambicionando-se atingir um volume de exportações equivalente a 50 % do Produto Interno Bruto (PIB) até ao ano de 2025.

O concelho de Penafiel, por necessidade de se ajustar a esta prioridade, mas também por força da existência de uma parte do seu tecido empresarial vocacionado e preparado para a internacionalização da sua atividade, mais do que duplicou as suas exportações ao longo de pouco mais de uma década, apresentando um valor de cerca de 190 milhões de euros em 2021, face a cerca de 88 milhões de euros registados em 2009.

De forma mais detalhada, podemos verificar que em Penafiel, e concretamente nos últimos quatro anos, mesmo em contexto pandémico que vigorou a partir de março de 2020, houve um crescimento significativo das exportações, embora nem sempre o saldo da balança comercial tenha sido positivo, motivado pelo crescimento das importações algumas vezes superior ao das exportações, conforme se pode verificar no quadro e gráficos representados a seguir.

Num país em que o equilíbrio das contas públicas ainda está bastante dependente das remessas dos emigrantes, há cerca de 10 anos que se apresenta um saldo positivo da balança comercial de bens e serviços, fator que também tem sido decisivo para a evolução positiva das contas públicas e fator de suporte para a aposta estratégica em ações que visem o conhecimento dos mercados externos, a prospeção e captação de novos clientes internacionais e a dinamização de ações de promoção e marketing internacional.

Ainda assim e no caso das empresas do concelho de Penafiel, o aproveitamento de fundos comunitários que visam potenciar esta estratégia não tem sido muito significativo.

Na verdade, no atual quadro comunitário de apoio (Portugal 2020), e de acordo com os dados disponibilizados pela Autoridade de Gestão do Compete 2020 e Norte 2020, o investimento apresentado a apoios no âmbito do Sistema de Incentivos à Internacionalização foi de cerca de 6 milhões de euros, o que corresponde a sensivelmente 3% do total das exportações do ano de 2021.

Já o apoio recebido por estas empresas foi de cerca de 2 milhões de euros, o que representa pouco mais de 1% do total das exportações desse ano de 2021. Tem sido muito pouco, portanto, o aproveitamento de fundos comunitários, até quando comparado com outros concelhos da NUTS III do Tâmega e Sousa.

Esta análise entronca numa problemática há muito detetada e que se prende com o facto de o investimento na estrutura produtiva nacional ter sido descurado ao longo de duas décadas, criando uma dependência face ao exterior, situação que ficou ainda mais visível (e com uma dimensão preocupante) com a guerra na Ucrânia que fez disparar o custo das matérias primas e do transporte de mercadorias a nível das transações económicas mundiais.

O caminho para um processo de internacionalização sólido e duradouro, ainda que não seja o mais rápido e direto, tem necessariamente que assentar no reforço do aparelho produtivo do país, em geral, e do concelho de Penafiel, em particular, numa lógica de inovação produtiva, de aposta no e-commerce e na transformação digital.

Importar matérias primas para exportar produtos acabados, apenas gera um valor acrescentado de mão de obra e serviço.

Para se “ir lá para fora” temos de “produzir cá dentro”!