Input Económico

Empresas e Projetos AEP

Mais Olhos Que Barriga

É indiscutível que uma das maiores singularidades e atrações de Portugal é a sua gastronomia.

Por esse país fora, são muitos os locais onde se podem degustar as melhores iguarias tradicionais de cada região, num verdadeiro repasto que incute a vontade de lá regressar um dia. Talvez esse fator, a par de sermos uma terra soalheira à beira-mar plantada, seja aquele que mais contribui para que todos os anos sejamos visitados por milhões de turistas.

Ainda assim, o setor da restauração em Portugal é, provavelmente, aquele mais suscetível a variações de rentabilidade, não só pelo carácter de sazonalidade de muitos estabelecimentos (direcionados para os turistas), mas também pela forte dependência da procura e do rendimento disponível dos consumidores.

A pandemia veio colocar a nu essas debilidades: os restaurantes tiveram de fechar algum tempo; quando estavam abertos os clientes não tinham os mesmos hábitos e frequência de consumo; os apoios existentes eram proporcionais às perdas face aos resultados declarados; no fundo o setor passou pela tempestade perfeita.

Segundo um inquérito realizado pela AHRESP, no início do ano de 2022, é referido que “o ano 2022 começou pior que 2021 para as empresas da restauração, similares e do alojamento turístico: após dois anos de pandemia, com várias restrições à atividade, ao sobre-endividamento das empresas juntam-se, agora, os aumentos de preços de energias, combustíveis e de matérias-primas” e revelou que se verificou “um aumento das intenções de insolvência, chegando mesmo a duplicar nas empresas de restauração e 31% das empresas de restauração e similares ponderam mesmo encerrar definitivamente” a que acresce “a notória dificuldade de contratação de profissionais para este setor, já que 90% das empresas de restauração que tiveram necessidade em contratar novos colaboradores referiram sentir fortes dificuldades em consegui-lo, sobretudo para as funções de profissional de cozinha e de mesa ou balcão”.

Perante este cenário, as empresas de restauração têm reclamado algumas medidas de carácter excecional para as ajudar na retoma, nomeadamente a conversão de dívidas resultantes de empréstimos de apoio à tesouraria das empresas adquiridas no período COVID19 em fundo perdido, a descida do IVA da restauração e a isenção da TSU no acréscimo dos salários acima da média do setor.

Mas isto é a montante, porque a jusante os restaurantes já souberam (ou começam a saber) fazer o seu próprio caminho, procurando encontrar novas formas de se diferenciarem e de oferecerem aos seus clientes a melhor experiência de consumo, indo cada vez mais ao encontro das suas preferências.
Entre as várias formas de diferenciação que os restaurantes têm apostado, para além da qualidade da comida e da relação qualidade / preço que importa garantir, há a destacar o recurso cada vez mais sustentado a novas tecnologias, fazendo-se um aproveitamento da tecnologia para melhorar o serviço, aumentar a eficiência da equipa e oferecer um atendimento mais personalizado aos clientes.

São cada vez mais os restaurantes em que a tecnologia veio facilitar todo o funcionamento, tanto dentro da cozinha, como na sala de refeições, aumentando a eficácia e eficiência e proporcionando comodidade aos seus clientes que, até há poucos anos atrás, iam ao restaurante e se adaptavam às suas condições de oferta e serviço, e que hoje são seduzidos através de um universo digital, que pretende atraí-los e conquistá-los, adaptando a oferta e o serviço às suas preferências, nunca esquecendo que cada experiência se pode refletir numa avaliação e, sobretudo, num regresso e numa fidelização.

Seja no consumo no restaurante, ou através de entrega, é indispensável para a sustentabilidade do setor que a comida tenha um processo de encomenda fácil, preferencialmente de consulta online com recurso a imagens e informação objetiva, com entrega rápida, cumprindo as normas básicas e essenciais de segurança alimentar, num ajustamento simbiótico não para um cliente preguiçoso, mas para um cliente cada vez mais exigente, atento, curioso e informado.

A qualidade da comida será sempre a mais sujeita à apreciação do consumidor, mas o que se perceciona e a forma como se o faz é um caminho sem regresso, em que haverá, mais do que nunca, mais olhos que barriga!