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Uma Questão de Moda(s)!

A preferência dos consumidores, entre muitas outras variáveis, assenta quase sempre no dilema dicotómico entre os gostos e o preço.

E no que ao vestuário diz respeito, por força da exposição pública daquilo que vestimos, e que os outros apreciam, esse dilema ganha força.

Por isso a fileira da Indústria do Têxtil e Vestuário (ITV) é uma das mais suscetíveis à variação dos gostos do consumidor, não descurando o seu poder de compra, e que carece de uma constante atualização face à evolução dos mecanismos de mercado.

Dado que em menos de uma década a China conquistou quase metade da quota global do comércio têxtil e vestuário, numa estratégia assente em custos de produção para menos de 20% do valor unitário do preço de venda, inviabilizando uma concorrência assente primordialmente no custo, a ITV portuguesa teve de proceder a uma transformação estrutural que resultou num grande sucesso ao nível do mercado global.

Essa transformação imposta pelo mercado passou da competição pelo preço para a competição pelo valor, apostando na criatividade, no design e na moda; pela aposta na construção de um modelo próprio sofisticado de private label, através do reforço da presença em feiras e eventos internacionais; e pelo desenvolvimento de um estratégia coletiva, reforçando o cluster, de forma a aproveitar os apoios existentes para realizar investimentos de alto retorno, particularmente no domínio da capacitação do capital humano, da inovação tecnológica e da internacionalização.

Mas se por um lado esta transformação catapultou a ITV portuguesa para o topo das preferências dos consumidores europeus, por outro lado, a ITV passou a consumir excessivamente produtos químicos na produção e tratamento dos produtos, tornando-se na segunda indústria mais poluidora, obrigando-a a enveredar por uma nova transformação: a da sustentabilidade, desta vez num dilema dicotómico entre a ética e a estética.

E o que está em moda é precisamente, e que se exige a todos os agentes envolvidos – produtores e consumidores – é que no binómio produção/compra, o ambiente e o custo associados sejam as variáveis determinantes.

Assim, o futuro impõe os seguintes desafios e recomendações para este setor, em geral, e para as empresas, em particular:

1) Inovar processos para aumentar a rendibilidade das vendas, mudando as convencionais práticas de gestão, pensando estrategicamente o negócio numa perspetiva de médio-longo prazo.

2) Promover a diferenciação através do reforço da ligação ao sistema científico e tecnológico, permitindo assim aumentar as margens e com uma maior incorporação do serviço no valor final.

3) Apostar na terciarização da ITV, fazendo valer o know-how adquirido e não prescindir dos centros de decisão.

4) Apostar na capacitação dos recursos humanos para responder às necessidades de qualificação da mão de obra e de responsabilização socioeconómica.

5) Fomentar a digitalização de processos, produtivos e de controlo.

6) Apostar na internacionalização para elevar a rentabilidade dos negócios ganhando quotas de mercado.

7) Ganhar dimensão para não correrem o risco de se tornarem irrelevantes, dada a crescente exigência da competitividade à escala global, através do reforço do cluster, unindo forças para a criação de lobby pois este é sempre amplificado pela representatividade de quem o exerce, aproveitando e potenciando os apoios dos fundos comunitários, nomeadamente o PRR e Portugal 2030, priorizando investimentos na transição digital, na sustentabilidade, na economia circular e na eficiência energética.

O private label da ITV portuguesa transformou-se numa importante estratégia que permite vender a capacidade de inovação, criatividade e respeito pelas preferências dos consumidores pela sustentabilidade e o aumento das expectativas face à responsabilidade social e ambiental das marcas de moda.

As condições estão criadas para que a ITV portuguesa continue organizada e com uma capacidade de sedução dos consumidores, mas todos os stakeholders deverão estar alinhados numa perspetiva integral e integrada de se posicionar perante estes novos valores.

Terão de o fazer imperativamente! Se não o conseguirem fazer, o setor será uma moda em desuso!