Input Económico

Departamento de Estudos e Projetos da AEP

Para um normal estudante de Economia, é perfeitamente comum familiarizar-se com a expressão “ceteris paribus”, da tradução do latim “todo o resto constante”, que é muito utilizada na ciência económica para explicar diferentes modelos, considerando como inalterados quaisquer outros fatores que os possam influenciar, simplificando a sua conceção e anulando a influência de variadíssimos fatores sobre os resultados finais. Por exemplo, na Lei da Oferta e da Procura, na formação de preços do mercado, considerando todos os outros fatores constantes, é possível afirmar com certeza que se a oferta de um produto ou serviço diminui, o preço no mercado sobe, devido ao aumento da sua escassez, o que lhe sobrevaloriza a utilidade e, por consequência, o seu valor.

Ora, se há coisa que a pandemia do COVID-19 veio demonstrar é que a gestão empresarial, ainda que se possa desenvolver tendo como suporte ou referência qualquer modelo económico, seja ele mais ou menos liberal, não pode assentar de forma exclusiva o seu planeamento através da consideração da imutabilidade de todos os fatores em detrimento da variação de um único. E neste campo, tanto importa se tratar da micro ou da macro organização!

De facto, perante este cenário desafiante e de alterações constantes, em que ainda ninguém consegue prever com exatidão como será, realmente, a “nova normalidade”, as empresas têm de reinventar a capacidade para enfrentar um futuro incerto, num período que lhes promete trazer muitas dificuldades, e em que a tomada de decisão no imediato passa por garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores afetados pelo Covid-19, a manutenção dos postos de trabalho, a manutenção dos rácios de produtividade e a sobrevivência da liquidez de tesouraria.

Muito dificilmente, a generalidade das empresas voltará à performance que apresentavam antes da pandemia, e a adaptação às novas tendências tecnológicas como o teletrabalho e a venda online parecem vir para ficar, mais a mais porque, decorrente de algumas das medidas de contingência, o e-commerce afirmou-se como a única possibilidade de acesso a bens não essenciais por parte dos consumidores, promovendo por essa via a economia circular e implementando-se um consumo online mais sistematizado e responsável.

De acordo com os estudos sobre a economia digital conduzidos pela IDC e ACEPI – Associação da Economia Digital, em Portugal, o volume das compras online realizadas pelos portugueses em 2017 situou-se nos 4,6 mil milhões de euros, sendo que em 2009 era de cerca de 1,7 mil milhões de euros. Em 2018, o volume de compras online situou-se em cerca de 5,5 mil milhões de euros, representando um crescimento de cerca de 20% face a 2017. Em 2019, as compras online realizadas pelos portugueses ultrapassaram os 6 mil milhões de euros.

Segundo um inquérito da IBM apoiado pela Techcrunch, a pandemia COVID-19 acelerou a mudança das lojas físicas para o comércio eletrónico
em cerca de 5 anos. No final de 2020, existe a perspetiva de atingir 8 mil milhões de euros.

Só que a questão fulcral é saber como vai ser o “amanhã”! Irão as empresas (quando e se puderem) voltar aos moldes tradicionais que privilegiam as compras offline? Irão os negócios mais pequenos, que foram obrigados a adaptar-se e a reinventar novas vias de comunicação com o público, aproveitar a experiência e a aprendizagem do período “à porta fechada”?

Uma coisa é certa, se há algo a aprender com toda esta recente vivência, é que as empresas devem ter em consideração não apenas o que acontece hoje, mas também amanhã e depois e depois. Isso obriga-as a serem resilientes no presente e a planear e preparar o futuro. A rápida capacidade de reação a esta crise indicia uma assinalável adaptação a mudanças repentinas por parte das empresas e empresários. A digitalização que era uma “escolha” antes da pandemia, tornou-se agora numa quase “imposição”, obrigando a que muitos recursos humanos obtivessem um autêntico “curso intensivo” em digital, o que criou oportunidades significativas e que certamente poderá trazer novos clientes e novos mercados.

Mas até lá … há que ter resiliência! Há que esperar que as políticas macroeconómicas de recuperação sejam eficazes, eficientes e equitativas, o que nem sempre tem merecido acolhimento favorável e o entendimento por parte da classe empresarial. O fator de alavancagem continua a ser fundamental, independentemente do modelo económico em vigor.

Escreveu Leon C. Megginson que “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”! E a adaptação é, no momento, a conversão para o Digital! A pandemia apenas acelerou a necessidade da aposta no Digital…

O DIGITAL VEIO MESMO PARA FICAR. ISTO SE… CETERIS PARIBUS! PORQUE AMANHÃ, O CENÁRIO PODE SER OUTRO!